Dinheiro em cédula tornou-se um passaporte para a globalização
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A culpa é do dinheiro de papel. O desenvolvimento de notas de papel, na China, há mais de mil anos, acelerou o acúmulo de riquezas, a geração de déficits e as bolhas de crédito – abrindo caminho para a atual crise financeira...
Quando os mercadores chineses começaram a usar dinheiro de papel na dinastia Tang (que se estendeu de 618 a 907 d.C.), mal podiam prever essas dificuldades. Na época, a introdução de cédulas de papel, que podiam ser trocadas por moedas ao fim de uma longa jornada, foi muito vantajosa. O papel diminuía a carga dos comerciantes, permitindo que transportassem grandes quantias de dinheiro a distâncias consideráveis.
A prática assumiu proporções nacionais no século 10, quando um corte no fornecimento de cobre obrigou o imperador da dinastia Song a colocar imediatamente em circulação as primeiras cédulas do mundo. Uma série de invenções chinesas anteriores – o próprio papel, tinta e artes gráficas – contribuiu para isso.
Quando Marco Polo visitou o império mongol, nos anos 1200, ficou impressionado com as sofisticadas moedas cunhadas de Kublai Khan, associadas a uma economia aparentemente em expansão. (Mas o explorador não percebeu os sinais da inflação provocada pela rápida impressão de
notas.)
Mais tarde, a circulação da moeda permitiu aos países europeus canalizarem recursos para fora da Ásia e África, alterando basicamente o equilíbrio global do poder. Hoje, a moeda de papel significa que a riqueza também flui no sentido dos países em desenvolvimento. A conversibilidade financeira permite que a China compre títulos americanos, financie débitos que nunca serão reembolsados.
Mas ela também amplia o passo para o acúmulo de riquezas. A moeda de papel – e sua herança moderna, o comércio eletrônico – também abriga bolhas que contribuíram para a crise financeira do ano passado.
Na recessão atual, os rumos do mercado completaram um círculo. Preocupados com a estabilidade financeira, alguns investidores voltaram a investir em metais preciosos. Um retrocesso às formas de moeda mais abstratas significa um retorno às raízes econômicas: séculos depois da conversão para papéis, o preço do ouro decolou.
Scientific American Brasil
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